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sábado, 29 de agosto de 2009

Da Gralheira à Arada, por entre a Freita e São Macário

“Vamos fazer uns Kms valentes?” Foi assim que o Zé Valença, numa qualquer quarta-feira do mês de Agosto, mais precisamente a 26, abordou o tema que já lhe pairava na cabeça há alguns dias: fazer um passeio de mota. O percurso era simples: almoçar entre as Serras da Freita e de São Macário (para quem nunca ouviu falar, aconselho vivamente a fazer uma pesquisa pela net, só para ficar a saber o que está a perder).



Para quem conhece o Zé, provavelmente acha tudo isto normal. Para nós, caloiros no motoclube, acabadinhos de filiar em Góis - ou pelo menos para mim - foi uma surpresa. Ando há anos a desejar ardentemente fazer um passeio de mota. Arrancar num fim-de-semana, e com destino ou sem ele, ir onde a estrada me levar. Descobrir caminhos, percursos, paisagens e, acima de tudo, gentes de Portugal. Rir, partilhar, sair da comodidade de paredes de betão, da claustrofobia da cidade e viver Portugal! Mas não é fácil encontrar pessoas sintonizadas nos mesmos desejos e loucuras que nós próprios. Os desencontros da vida nem sempre nos permitem encontrar pessoas com o desejo de partir, de viver e de se aventurar pelos caminhos de alcatrão ou de terra batida.


Mas para o Zé foi tudo tão simples como dizer “Vamos fazer uns quilómetros valentes?” E a coisa fez-se. Reuniu-se em dois ou três dias uma equipa de heróicos tugas dispostos a largar a sua cidade natal, alguns obrigados a deixar em terra firme o que de mais precioso têm - a seguir à mota, claro está, as próprias esposas…
Estou a simplificar bastante, é certo. A organização de um qualquer tipo de eventos implica ponderar uma série de variáveis, fazer inúmeros contactos, escolher percursos, e ter soluções de recurso. Porque quando alguém se compromete a organizar algo, não pode deixar nada ao acaso. Mas o Zé já tinha tudo “planeadinho” na cabeça e no terreno. Tudo estudado, tudo marcado. Nada foi ao acaso. E que bem que soube!
Sede do MTC. Quarta-feira, 26 de Agosto.
Mal o Zé lançou o convite, eu já tinha dito interiormente que sim. Bastava ele ter dito qualquer coisa do género “a minha mota precisa de uma transmissão nova” ou “lavei a mota e preciso que ela seque” que eu já estaria a gritar “ARRANCAMOS AMANHÃ!”
O problema era os meus eternos amigos, Rui e Carla, poderem vir também. Sim, porque isto de ser feliz em todas as frentes, obriga a jogo de cintura. Desengane-se quem julga que a felicidade é andar de mota e já está. Como já disse noutras alturas, a mota é o pretexto. Eles tinham de vir. Tínhamos de os convencer.
O Rui seria fácil, pensei eu. Dar a volta à Carla, seria o busílis da questão. Curiosamente, o homem, sempre mais solícito à aventura, desta vez decidiu dar uma de responsável. E contra todas as expectativas, disse que tinha as crianças, era tarde, os pais, blá, blá, blá,… Mas se a Carla quisesse… Ora, para minha surpresa, a Carla disse que ir só dependia do Rui. Ela já tinha dito que sim. Iria, nem que fosse de carro, com as crianças. Feito! (Mal eles sabiam do quanto custoso iria ser. Mas se fosse fácil era para o Billy…).
Sábado, 29 de Agosto.
Concentração na sede do MTC. Não tenho a certeza, mas penso que não fui o último, apesar de ter ouvido alguém barafustar sobre qualquer coisa acerca do ponteiro dos minutos.
Estaciono a GS, e vejo logo uma mota que me faz as delícias: A Yamaha XTZ 660. Entro na sede e para quebrar o gelo, pergunto de imediato com uma convicção inabalável de quem era a KTM que estava ali fora. Ninguém me respondeu. “Bem, com o passeio o humor há-de mudar”, pensei eu. É o que dá confiança em excesso e neurónios a repousar…
Feitas as primeiras apresentações e o prólogo, fizemo-nos à estrada. Naturalmente e sem muita teoria, estabelecemos posições na caravana.
O Zé Valença e a 1ª dama Maria João, na VFR, iam a abrir. Logo a seguir o Sabino e o Gonçalão noutra VFR, que acabou por ser a mota mais representada no passeio. Depois a fantástica GS1200 com o seu duo dinâmico, eu próprio e a Mariana, seguidos de perto pelo solitário Armando Cavaleiro na sua Yamaha Fazer. A fechar as motas tínhamos mais um lonesome cowboy, o João Paulo na Yamaha Teneré 660, que eu tão convictamente achei que era uma KTM… No fim, o carro vassoura do Rui e da Carla, com a companhia da Susie e dos pequenos Mafalda e Miguel que se estão a iniciar nestas andanças.
Ao fim de rodarmos alguns quilómetros, apercebi-me logo da mudança de atitude do Zé Valença. A partir do momento em que se sentou em cima da mota, o “reguila e tresloucado” Zé ficou guardado no top-case e deu lugar ao cauteloso e consciente motard, que não facilita nem um grão de areia no meio da estrada. Ora gesticula com os braços, ou com as pernas, ou com as luzes da mota… tudo com o objectivo de nos transmitir segurança e alertar para todo e qualquer perigo que possa pôr a nossa integridade em causa. Fazia lembrar os batedores em tempo de guerra, cuja função era apalpar terreno unicamente para alertar dos perigos que os restantes compatriotas poderiam ter de passar.
É muito fácil passear assim. Apenas temos que nos preocupar em desfrutar da paisagem e das fantásticas estradas que brotam das nossas montanhas, cuja sucessão de curvas e paisagem se torna num vício quase doentio.
Decorridos alguns kms, e fazemos um stop and go para apanhar mais uma mota. Neste caso era o Costa e a Mila, na sua Pan European.
Caravana completa, e arrancamos para S. Macário.
Fazemos a primeira paragem para comprar fraldas… e abastecer as motas. A partir daqui ia ser sempre montanha… e bombas de gasolina só de binóculos!
Passamos S. Pedro do Sul e começamos a subida para o santuário, que ficava mesmo no topo da Serra. Começa o deslumbramento da paisagem. E que subida…


 Estava a começar a ficar um calor um pouco mais intenso do que seria desejável e a explicação é fácil e seca: alguém se tinha esquecido de ligar as ventoinhas
Comecei a trocar algumas ideias com o meu belo pendura, e parece que o mais difícil ainda estava para vir. A subida continuava…
Mas algum momento havia de acabar. E a verdade é que acabou mesmo. Atingimos o cume aos 29 dias do mês de Agosto de 2009. O ar era respirável e a paisagem deve ser parecida com o que há de melhor para se ver neste mundo.
Demos os parabéns aos mais novos por terem conseguido tão novinhos este feito, e ficámos a saber que há pessoas que usam boxers Pierre Cardin com elástico vermelho.

Uma das simpáticas repórteres que acompanharam a viagem para que não restasse a mínima dúvida do feito alcançado.
Picado o ponto, ala que se faz tarde.
Sem saber bem o que mais é que nos podia surpreender depois de atingir o santuário e darmos doces aos nossos olhos com toda aquela paisagem, começamos a embrenhar-nos cada vez mais na serra e nas estradas de montanha. Uma certeza ficou: a paisagem que veio depois de certeza absoluta que deve ter servido de inspiração ao arquitecto que criou os Pirinéus, Alpes, Fiordes… e todos aqueles locais que, quando saímos de Portugal, dizemos despudoradamente não ter, magoando as nossas raízes de uma forma completamente gratuita. Como era o slogan? “Vá para fora cá dentro”, acho que era isso!
Digam lá que a estradinha não dá gozo…
Há gente a morar ali, por incrível que pareça. Por esta altura, ainda não sabia o nome nem a história daquele local.
Chegámos à Aldeia da Pena.
 O sintético road-book diz:
“IDA PELA VINDA
àPENA (ALDEIA DE XISTO, ONDE O MORTO MATOU O VIVO), VISITA”
Isto deixa adivinhar duas coisas: a primeira é que a estrada não tem saída! A segunda é que a aldeia tem uma lenda.
E assim foi. Aqui fica uma curta história sobre a Aldeia da Pena.
Aninhada no fundo do vale, a aldeia confunde-se com a Natureza que a envolve num cenário de sonho. Junto a uma ribeira de água cristalina, à entrada da aldeia, fica a Adega Típica Pena, também ela toda de xisto, de resto, aliás, como toda a povoação. Até o tampo das mesas é de xisto. Os carros não entram na aldeia. É proibido.
A aldeia enquadra-se num cenário natural de rara beleza. Estende-se por um viso que vai morrer à ribeira da Pena, a cerca de 600 metros de altitude. As suas águas são cristalinas, embora bastante frias, dada a sua proximidade da nascente e o facto de correr sobre terrenos rochosos. Dá muita vida à aldeia, pois é a partir dela que os campos são regados. O seu caudal nunca seca, sendo por isso aproveitado, nos meses mais quentes do ano, pelos habitantes locais e por alguns visitantes, para banhos.
O isolamento secular só foi quebrado há poucos anos com a construção de uma estrada alcatroada, ainda assim íngreme e sinuosa. Até então, mesmo os mortos tinham que ser transportados em padiola. E foi a queda de um caixão, atingindo mortalmente um dos carregadores, que fez nascer a lenda do "morto que matou o vivo". 
Aproximava-se a hora de almoço, e nestas alturas a cultura já começava a ser questionada. Indagámos ao nosso “sherpa” em que sítio era a bucha! Cultura e tal sim senhor, mas… de barriga cheia. Senão não fixo nada.
Fizemo-nos à estrada. Destino: “Covas do Monte”. Objectivo: comer!
Começámos a sorrir. O restaurante estava à vista. Era uma antiga escola primária que foi recuperada pelos amigos de Covas do Monte e convertida em restaurante.
Um lugar engraçado com gentes muito simpáticas e comida deliciosa.
Passou-se ali um bom bocado e quando já estávamos todos saciados, começa a confraternização. Tínhamos de um lado o Zé Valença, que tende a fazer amigos onde quer que se vá, e de outro as cheerleaders do mototurismo a dar apoio primário.
No mesmo restaurante onde estávamos a almoçar, estava também um grupo de homens, constituídos também sob um qualquer pretexto de grupo, que se auto intitulavam de “Os Papa tudo”, com quem o Zé tratou logo de estabelecer contacto. E realmente é muito engraçado a forma fácil como pessoas se conhecem, confraternizam, trocam piadas e combinam novos encontros!
 Incrível mesmo foi a descoberta de uma pop-star, num sítio próximo do local onde o diabo perdeu as botas.
Bem, fizemo-nos ao caminho com os nossos novos amigos e fomos dar um passeio pela aldeia.

Ao fim de alguma conversa e de alguns metros de turismo, os nossos amigos da confraria, não sei se por decisão deles, se por convite do próprio, decidiram ir até casa do Sr. José da Cruz, presidente da junta.
Ora, o nosso presidente, não o da junta, decretou irmos todos com eles. O mais giro destes passeios é que, por mais pensados que eles estejam, o inesperado acontece sempre.
E desta vez, foram as portas da presidência que se abriram para nós.
Um cumprimento político entre presidentes…
… e o maranhal a chegar todo. Já agora façam o exercício de tentar perceber o que é comum a todos os elegantes intervenientes da festa… Ou isto não fosse tudo gente que tem o garfo e a faca, como um dos contactos do telemóvel. 
Aqui temos a simpática Dª Emília, esposa do presidente José da Cruz, a preparar a letria para a festa do dia seguinte. Não sei como é que o doce sobreviveu intacto a tantos passantes.
 Foi muito giro. Percorrer a casa do Sr. José e da Dª Emília, fez-me recuar anos na minha história e recordar-me dos tempos passados com os meus avós, quando eu era mais garoto, e andava pelo meio rural em Ovar, Estarreja, Murtosa, S. Jacinto, Furadouro, e perceber que tenho muitas saudades desse tempo. Não havia responsabilidades. Limitava-me a inventar jogos e brincadeiras na companhia do meu irmão, e a usufruir de uma paisagem, que ainda hoje considero como um dos sítios que mais bonitos de Portugal, e que mais tranquilidade e saudade me dá. Lembro-me dos fins-de-semana em que tínhamos a inevitável sardinhada ou churrasco de família, para os lados da Torreira, com os meus tios e amigos e muitas crianças da minha idade. Na altura via-se pouca televisão… Depois crescemos e fica a memória e a saudade…
Porque é que fui lembrar tudo isto ao percorrer aquela casa? Pela simplicidade. Pelo desembaraço. Pela ruralidade. Pela pureza das pessoas e dos sentimentos. Pela alegria e, fundamentalmente, pela felicidade. Entrámos em sua casa, e partilhámos da sua vivência, do seu modo de estar e de viver. Não havia o “não olhe”, “não repare”, “não mexa”. Fomos como hóspedes de cultura e sentimento.
 O culto da personalidade, do capitalismo e do cosmopolitismo perde todo o significado, quando se é convidado a entrar em realidades como a que acabámos de presenciar. O Vício do stress é de tal maneira intenso, que a cidade foi obrigada a distanciar-se das raízes portuguesas, e neste momento  subiu tão alto que perdeu qualquer tipo de ligação ao passado. Como é possível estar continuamente a apagar dos nossos genes a nossa história, as dificuldades passadas e actuais em prol de algo que se chama progresso e felicidade abstracta?
Provámos vinho caseiro, da garrafa e directamente da pipa, vimos como se conserva carne em sal à maneira antiga, presuntos pendurados como se estivéssemos numa qualquer casa especializada de enchidos e vimos cabras pelo meio das ruas a viver em harmonia com os humanos.
Foi de uma facilidade impensável a forma como um grupo de 15 pessoas se transformou num de 27, num abrir e fechar de olhos. Repare-se na Dª Custódia, a senhora que está em baixo ao centro, a “matriarca” do grupo, já com os seus 91 anos de idade, que o Zé Valença conseguiu “arrancar” de dentro de casa, por mais que ela dissesse que tinha varizes e osteoporose. Ela não conhece o Zé, pois caso contrário teria percebido logo que dizer não seria atrasar o inevitável.
 A nossa estrela rock, foi-se abaixo. Tanta emoção só podia transbordar em soneca.
O presente e o futuro.
Ao fim de algumas horas, talvez, estava na hora de nos fazermos à estrada. O mais difícil foi convencer o Valença a vir embora. Por ele, acho que tínhamos ficado para jantar e quem sabe o que mais. E o engraçado é que, de certeza, toda a gente, autóctones e nómadas, iriam gostar que assim fosse. Mas ainda havia alguns kilómetros para fazer.
Despedidas feitas, contactos trocados, pusemo-nos a caminho. Destino: Cascata da Frecha da Misarela.
Nada melhor do que completar as emoções vividas ao almoço, com um percurso de uma beleza rara, por uma estrada de curvas e contra curvas, a fazer lembrar os percursos do Lés-a-Lés.




 É então que vejo a Cascata da Misarela. Esta cascata localiza-se em pleno rochedo granítico do planalto da Serra da Freita, a uma altura de cerca de 900 metros, é alimentada pelas águas do rio Caima e apresenta uma altura que ronda os 75 mts; é uma das mais altas da Europa.

Antes de começarmos a descida, o Zé faz um pequeno prólogo a explicar o que vai acontecer. “Vai ser uma descida bastante acentuada, com curvas cotovelo, mas que vale a pena. Lá em baixo iremos vestir o fato de banho e refrescar-nos-emos”. Por esta altura a 1ª dama já quase sufocava. Dei por mim a pensar “não deve ser assim tão difícil”.
Acho que nunca tinha feito nenhuma descida como aquela. Fi-la quase toda em 1ª e as curvas eram mais apertadas que cotovelos fechados. Incrível!  Mas valeu muito a pena, apesar de um pouco difícil, confesso.
Chegados lá abaixo e motas estacionadas, confraternizámos um pouco e acalmámos os ânimos para estabilizar a adrenalina. Teria de se ir a pé a partir daí se queríamos ir ao banho. Ao fim de alguns minutos, o Valença comunica que não podemos descer até ao rio para tomar banho, porque lá em baixo está um casal a ter sexo e não queremos interromper. Foi com esta frase que nos dissuadiu de ir à água. Montámos todos nas motas e começámos a fazer a subida. Fez-se bem.

 Chegados cá a cima, paramos num café para beber uma água. Estava mesmo muito calor e o facto de já não irmos tomar banho, deixou-nos a todos de rastos. Se bem que eu tinha esquecido os calções de banho; por isso, foi um misto de alegria e tristeza.
Claro está que quem muito quer, tudo alcança. E lá houve alguém que vislumbrou um riacho de montanha, com alguma facilidade de acesso. Dei por mim a pensar: “Água de montanha? Deve estar pior que a da Figueira”. Mas aquilo era gente de fibra e principalmente de fixações. Iniciámos a descida a pé.


 Chegados lá abaixo, já me tinha conformado com o facto de ter de ir de boxers ao banho, ser agarrado por fans e idolatrado pelos homens. No entanto, quem tem um amigo tem tudo. E o Rui facilitou-me um dos calções dele e o misto de alegria e tristeza, passou a ser de euforia juvenil.
Começa o momento Disney.
Estranhamente a água não era fria. Bem pelo contrário, fazia lembrar o Algarve…
Continua o momento Disney.
Nem todos os motards são feios, porcos e maus. Alguns de nós já tinham tomado banho de manhã e por isso não sentiram a necessidade de acompanhar quem não tomou.

Descobrimos também que coabitam no rio sereias e monstros, o que é deveras invulgar!
Uma fotografia linda e ternurenta.
E mais sereias!
E acabou-se !... Ficámos deliciosamente frescos e satisfeitos.
No fim, instalou-se uma questão que talvez não fosse tão boato como isso. Parecia que havia uma ETAR um pouco mais acima do sítio onde nós tínhamos estado a tomar banho… Uma ETAR não seria certamente, mas algo parecido, ninguém teve dúvida. Daí a água estar tão boa... O importante é que ninguém ficou doente.
Posso dizer, que este momento de relaxe, talvez tenha sido o momento que deixou cair barreiras e limites, e pelo menos a mim, me fez aproximar mais de todos os restantes comparsas de viagem. O disparate aproxima sempre as pessoas. Se com a família Valença é extremamente fácil ter à vontade, pois é sempre a loucura, com as restantes pessoas, pouco ou nada tinha estado. E o partilhar deste momento de boa disposição e refrescamento, fez com que toda a gente se unisse mais, trocasse brincadeiras e criasse uma empatia natural, que, apesar de sempre ter estado presente, estava de uma forma distante. Faltava-lhe o click.
Começava a ser tarde. Brincámos demais. Agora sim, tínhamos de fazer uns quilómetros valentes. De volta às nossas montadas, arrancámos. Continuámos com a mesma paisagem. Será que ainda estávamos em Portugal?
Andámos, andámos e andámos até que o Rui comunica ao nosso organizador, que tem de parar para dar de comer aos miúdos. Imagino o berreiro que ia dentro daquele carro…
Seria fácil parar no primeiro restaurante que aparecesse. Mas o extremoso Valença, que não deixa os seus créditos por mãos alheias, tratou de arranjar um restaurante à maneira. Então andámos “perdidos” em Aveiro, fora de Aveiro, e já não sei onde mais a perguntarmo-nos se o Zé teria um destino.
E não é que tinha mesmo!? Parámos no restaurante “O Batista”, cuja especialidade é o Bacalhau. E que sítio! Estava cheio de gente, dentro e fora. Incrível! Mas o mais incrível não era isso. Incrível foi chegar, ver e sentar. Já estava uma mesa à nossa espera. Apertadinhos no início, mais folgados para o fim, tivemos um belo repasto. Comi um bacalhau como há muito tempo já não comia.
Até no improviso, o Zé é mestre!
No fim, quando o grupo já cá estava todo fora, para ir embora, tinha desaparecido o Zé Valença. Fui com o Costa à procura dele, e damos com o homem a degustar uma bela taça de Champanhe na companhia de mais dois; presumo que um deles fosse o dono do restaurante, e convidou-nos para nos juntarmos a eles. Não nos fizemos rogados. Serviram-nos uma taça de champanhe e ficámos a ouvir histórias de tempos passados. Algum tempo depois, perguntam-nos se queremos ir conhecer o resto do restaurante. Fui eu e o Costa. Mostraram-nos o que podíamos ver e o que não podíamos ver. As reservas de bacalhau, as arcas congeladoras, os tanques para tirar o sal, os sítios fechados do restaurante… confesso que foi uma surpresa. E mais surpresa foi quando o nosso guia nos diz que as reservas de bacalhau que tínhamos acabado de ver, deviam dar para um ou dois dias. Estamos a falar de um compartimento com alguma dimensão cheio de caixas com o fiel amigo. Não quis acreditar. Realmente, a indústria do bacalhau é impressionante, e a barriga dos portugueses assustadora!
Lá convencemos o Valença que tínhamos de ir embora.
À chegada à mota, mais uma partida. Desta feita foi um dos empregados do restaurante que encheu o capacete do Zé com batatas dentro de um saco. Foi a risota geral. Estava a ser difícil ir embora.  
Com persistência e muitas piadas depois, lá nos pusemos ao caminho.
O resto é fácil de adivinhar. Paragem intermédia: sede do MTC; A seguir já ninguém precisava de road-book. Destino: casa!
Já na cama, dou por mim a recordar todo o trajecto, todas as brincadeiras e emoções de um dia muito bem passado, a fazer o que mais gosto: andar de mota na companhia de loucos como eu, que ousaram divertir-se e se atreveram a viver uma paixão!
Bons passeios!
Texto: João Santos
Fotos: António e Emília Costa e Mª João Valença
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Publicado em 29/10/2010

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