Mais de uma centena de mototuristas em 60 motos aceitaram o desafio do MC Porto para descobrir a tal serra esquecida do Distrito do Porto: a Aboboreira, no chuvoso fim de semana de 18 e 19 de Março, e sob a égide da FNM, já que o périplo tratava-se da segunda jornada do 10º Troféu de Moto-ralis Turísticos.
E com esta passeata, o MC Porto atingiu as 15 edições desta tão cultural forma de passear e dar a conhecer o país.
O Concelho do Marco de Canaveses foi visitado ao pormenor, região que ainda não é considerada destino turístico. A muita descaracterização de que foi vítima nas últimas décadas ainda deixou ficar muitos e bons pormenores. O preciso é descobri-los. A oferta hoteleira também está longe de ser a ideal. Tudo isto aliado a um tempo de aguaceiros que poucas abertas oferecia aos motociclistas poderia arruinar o trabalho de pesquisa dos dirigentes do MC Porto mas...nada disso!
Os participantes dos MR sabem que estes se desenrolam nas quatro estações do ano. Em 2006, o Inverno até já viu duas passeatas, e a do MC Leiria ainda mais fustigada foi. Mas a boa disposição foi sempre constante.
Os motociclistas estão a ficar rijos em Portugal. Aceitam o clima como ele é, e gostam de conhecer o modo rude como se vive nas serranias. A Aboboreira impressionou. E se tivermos petiscos à espera, cabritos a passar entre as pernas e os sons de gaitas de foles, ainda melhor.
O itinerário contemplou ritmos baixíssimos entre lugares, campos, aldeias, quintas, cascatas e pontes. O vale do Ovelha encantou e a sobremesa de sábado à noite trouxe duas horas e vinte de humor, do melhor que se tem visto no Troféu.
Mas vamos por partes.
Começar pelo Património
As Obras do Fidalgo, enome fachada de palacete que nunca chegou a ser acabado, em Vila Boa de Quires, foi o cenário escolhido para início do moto-rali e onde a Junta de Freguesia ofereceu petisco de Boas Vindas.
Daí, os participantes, oriundos de todo o Portugal continental, em representação de 14 motoclubes, começaram por descer - sempre pelas estradas mais rebuscadas - à sede de concelho para pararem pouco à frente na Estação Arqueológica do Freixo, extensa área de 50 hectares onde cuidadosamente se desenterra a cosmomopolita Tongóbriga, cidade romana que albergava 2500 almas e já possuia esgotos, fórum e termas.
Soalhães, Venda da Giesta e Torre de Nevões completaram o percurso matinal até ao almoço no Marco.
Continuar pelas dificuldade da vida
De tarde sim, iria-se subir a Aboboreira.
Primeiro, na medieval Ponte do Arco - sobre o límpido Ovelha - havia prova de destreza mental, com puzzle do próprio monumento.
Após vista a algumas sepulturas contemporâneas perto, subiu-se por terra batida à aldeia que dá o nome à serra, muito isolada e nas agruras de 760 metros de altitude.
A D. Ana, dona de rebanhos e com boas mãos para a confecção de queijos frescos, tinha preparado tabuleiros deles. Mel, doces e vinho acompanhavam a iguaria enquanto rebanhos regressavam aos currais, galinhas avisavam alto que já havia ovo e os bois do Ti Carvalho recalcavam a bosta entre as casa graníticas.
As motos estacionavam pela aldeia, já que a organização oferecia uma hora para todos curtirem o local.
Quatro elementos do grupo Andarilhos tocavam a Chula, música tradicional da região. De gaita de foles, rebeca chuleira, guitarra braguesa e bombos, o Vasco Monterroso e amigos não deixam morrer a tradição, chegando ao ponto de entrevistarem os habitantes, num louvável trabalho de pesquisa que começa a dar frutos. Parabéns.
Para fugir aos aguaceiros, os músicos e motociclistas misturavam-se em vaivém com os locais da Aboboreira, de fumeiro em cozinha, de cozinha em terreiro. Ficamos a conhecer a aldeia quase toda.
A D. Ana acabou por oferecer a casa, onde íamos cabendo uns 15 de cada vez.
Terminar à gargalhada
Almofrela e Currais tinham vinte minutos para serem conhecidas. Mas estas minúsculas aldeias (principalmente Currais onde só vive uma família) do cimo da serra estavam fustigadas pela chuva o que impediu que os mototuristas gozassem o tempo previsto.
Pouco depois, já à entrada da cidade, a "Volta ao Marco de Bicicleta" dava direito a trambulhões, no musgo do adro da Casa dos Arcos, Edifício de Interesse Público. Obrigado ao Clube de Cicloturismo do Marco.
Estava terminada a etapa. No final do jantar e após a entrega dos prémios que contemplavam o João Penão e Patrícia, dos Motards do Ocidente, como mais atentos, seguiu-se o melhor momento e que todos bem mereciam: Rui Xará e Pedro Neves, reconhecidos humoristas e que rebentaram com todos em quase duas horas e meia ininterruptas de piadas, cancões e anedotas.
Apagaram-se as luzes focando apenas a dupla. Todos se chegaram bem para não perder pitada e o Rui e Pedro, ora com mímicas, guitarras e muita irreverência, foram desfiando um recital que terminou às duas da manhã.
Que noite!
Regressar à serra
O Domingo acordou da mesma forma húmida, com a serra à nossa frente envolvida em cinzentas nuvens. Abertas? Onde?
Não faz mal. O Ovelha até ganha caudal e espectacularidade.
A aldeia de Castelo recebia a primeira visita, com a presença de elementos da associação ambientalista dos Amigos do Rio Ovelha, muito importante na eleboração deste evento.
Carvalho de Rei seguiu-se. Aqui, em percurso pedestre pelos moinhos comunitários surgia nova prova, das muitas do fim de semana. Tiro ao alvo com o capuchinho vermelho, caçador e lobo. Ai de quem acertasse no lobo, espécie protegida e em vias de extinção.
As agressões que a Aboboreira tem sido vítima, com IP's mal construídos sem passagens para a fauna, os fogos e as as plantações de eucaliptos e pinheiro bravo tem arruinado o habitat do Canis Lupus Signatus, mais conhecido por Lobo Ibérico.
Os próprios pastores já tem de puxar pela memória para falarem deste animal que lhes ía comendo algumas cabeças. Agora são os cães assilvestrados - cães que aos poucos se vão tornando selvagens - que provocam danos.
A ruralidade da Aboboreira encantava e, com mais uma série de controlos de permeio, os mototuristas regressavam à câmara do Marco para a prova final, fantasiados de Carmem Miranda, natural da terra e grande estrela de Hollywood da década de 50.
As perfomances dos concorrentes foram avaliadas, uma a uma pelo próprio presidente da edilidade, Dr. Manuel Moreira, que apreciou bastante o projecto turístico e cultural do evento.
Tanto prémio...
Com foto de grupo e almoço final, chegava a hora da entrega de toneladas de lembranças de Vila Boa de Quires, Câmara Municipal do Marco de Canaveses e Região dos Vinhos Verdes.
Com muito protocolo e ainda os sorteios dos materiais dos patrocinadores Scottoiler e SW-Motech, a entrega de prémios demorou mais 15 minutos para lá das 15.30h.
Tal como se previa, a etapa de domingo deu voltas às classificações de tão complexa que estava. Rui e Teresa Sousa, de Leiria foram os mais regulares, subindo ao segundo lugar final. Mas como os vencedores foram o Rui Moutinho e Ana Morais do MC Porto (que surpresa!), levarão os 25,5 pontos, já que os clubes da "casa" não pontuam para o troféu.
Os bi-campeões em título, casal Casimiro, ficaram com o terceiro lugar, com menos um ponto que Penão e Patrícia. Este ano, o Troféu começa renhido.
Fonte: FMP
Publicado em 04/11/2010 |
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