Sim, está-se muito bem com os amigos da “alcateia” do MC Covilhã-Lobos da Neve, principalmente se a estes se tiverem juntado os de longa data do Góis MC. Mas que grande parceria estes dois motoclubes se lembraram de fazer, colocando na estrada um delicioso passeio unindo os seus concelhos e sedes, a 26 e 27 de junho de 2021! Obviamente, a aceitação foi total, refletindo-se em 114 participantes em 74 motos!
Este evento, pontuável para o 24º Troféu BMW/Dunlop da
tão turística e cultural modalidade que são os moto-ralis da FMP, tinha tudo
para ser um sucesso. E foi.
Partindo na manhã de sábado da sede do Góis MC,
rapidamente o road-book enfiou toda a caravana pelas retorcidas mas bonitas e
panorâmicas estradas da Serra do Açor.
Após curta incursão nas ruelas menos conhecidas da vila
de Góis, seguiu-se um festival de aldeias de xisto, catalogadas como tal ou
não, mas quase todas com visíveis esforços para um melhoramento na sua
fotogenia. Já lá vai o tempo de se construir de forma desorganizada e diferente
da casa do vizinho. Felizmente nota-se o recuperar da traça típica desta
arquitectura tão bonita pelas aldeias, vilas e lugares. Parabéns!
Para começar, Cabreira, Tarrastal, Cadafaz, Candosa,
Colmeal, Cepos e Casal Novo foram testemunhas da passagem da pachorrenta
passagem das motos, minuto a minuto. Ora com paragens para descobrir respostas,
ora para se petiscar mais um pouco.
Ou ora para um mergulho no Alto Ceira, no Poço da Cesta.
Já estávamos perto de Fajão, por onde continuou o tortuoso percurso. As
barrigas não davam horas com tanta oferta de comida e por isso ainda se foi subir e descer a
Porto da Balsa, Covanca e Unhais-o-Velho. Histórias, lendas, brincadeiras bem
sacadas e questões à frente, lá nos sentamos à mesa na Portela de Unhais.
De tarde, os créditos do road-book passavam para o clube
da Serra da Estrela. Que nos transportou para o vale do Zêzere e complexo
mineiro da Panasqueira. Com um dia fantástico, seco, ensolarado e ameno,
começamos a circundar vagonetas de minério e alusões a minas e mineiros. Até
nos determos no epicentro de tanta labuta, a Barroca Grande, onde uma imensa
montanha de escórias chama a atenção ao longe. Aqui, cerca de 200 mineiros continuam
a entrar diariamente nos 12.000 km de túneis - sim, doze mil! - para extrair volfrâmio
e cobre.
Não é nada fácil imaginar túneis que se colocados em
linha nos poderiam levar de Portugal ao Japão e ainda andar lá às voltas.
Mas as minas esburacam uma área
de três por dois quilómetros até cerca de 240 metros de profundidade, ou mais. E
com uma teia quadriculada a cada cinco
metros de altura, como se fosse um gigante arranha céus subterrâneo.
Mas continua a ser difícil
imaginar tanto túnel…
Tivemos o privilégio de levar as
motos à boca da mina - de onde saía um ar gélido – conhecer o Museu Mineiro e
tentar perceber este duríssimo modo de vida.
A tarde ia a meio e faltava subir
à Torre, mas pelo pouco habitual troço em terra batida que une Unhais da Serra
ao Covão da Mulher, subindo o que se diz ser o mais comprido Vale Glaciar da
Europa, com os seus 13 km de extensão. Muitas fotos aqui se tiraram! A Serra da
Estrela estava bonita, com o sol já baixo, apesar de vivermos dias junto ao solstício
de Verão. A etapa terminou no teto de Portugal Continental e a descida para a
Covilhã foi a cereja no topo de um bolo muito imaginativo por parte dos
organizadores que obrigaram os motociclistas a muitas tarefas etnográficas e
paródia.
Cerejas que foram rainhas no
domingo, disputando o trono com queijo, a ruralidade de Caria, a história dos lanifícios
da Covilhã e arte urbana desta incrível cidade serrana.
É que a manhã dominical foi acima
da média começando com esforçado e trabalhoso percurso no labiríntico centro
histórico. É uma excelente forma de conhecer tanto mural, tanta arte, em tão pouco
metros de quelhas inclinadas. Vale a pena embrenharmo-nos no coração da terra
dos Lobos da Neve. As pinturas nas paredes das casas são umas a seguir às
outras. E mesmo com uma grande dose de navegação muitos perderam o fio à meada,
recuperando-o no New Hand Lab, pólo cultural que aproveita as instalações de
uma das muitas antigas fábricas têxteis desta que foi considerada a “Manchester
portuguesa”.
Com as tais cerejas, suculentas, o atractivo Museu do Queijo de Peraboa e o viver à moda antiga em Caria terminou a segunda etapa e praticamente o moto-rali turístico. Com rápida almoçarada, agradecimentos finais, sorteio de Voucher BMW e entrega de prémios aos mais regulares, tirou-se a foto de grupo ficando-se já a desejar o próximo encontro no estreante moto-rali do MK Mákinas, em Tábua, a 17 e 18 de julho.
Com agradáveis lembranças e mais uns pontinhos para a
classificação do Troféu regressaram
O Hélder Alexandre e a Iliana, seguidos de Afonso Marques
e Sónia e ainda Rui e Vera do Góis MC. Com excelentes recordações, regressou a
casa a mais de centena de mototuristas. “Tá-se” mesmo bem em alcateia, principalmente
por estas estradas!
Texto: Ernesto Brochado-FMP
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