Procuramos, sempre que possível, viajar de moto pela Europa. Como já referi noutras crónicas de viagem, a França é para nós o nosso segundo país, pelo que nos sentimos muito à vontade para explorar este grande país que tanto tem para mostrar e visitar.
Mais ou menos longas, é bom fazer viagens de moto para fora do país, contactar com outros povos, outras regiões, outros usos e costumes, enfim enriquecer o nosso conhecimento, no nosso veículo de eleição para férias, a moto!
Este ano regressámos a esta região dos Pirenéus franceses, onde se encontram os famosos percursos de grandes provas de ciclismo, como naturalmente o Tour. Sendo eu entusiasta do ciclismo, procuro seguir algumas das provas do World Tour, pelo que através da muita informação disponível sobre os percursos das provas, foi fácil escolher os trajectos que me pareceram mais interessantes.
Vamos lá então saber o que por lá andámos a fazer.
1º Dia - Águeda - Aurizberri-Espinal
Saímos por voltas das 7h30 da manhã do passado dia 14 de Agosto. A expectativa era muita, até parecia que era a primeira viagem. Todos os anos é a mesma coisa. Ainda bem, sinal da grande paixão por viagens de moto.
O nevoeiro à saída, impediu que assistíssemos ao triste espectáculo das imensas áreas ardidas que por estes dias assolaram, uma vez mais, a região de Águeda a caminho da A25. Espero sinceramente que alguém faça alguma coisa de vez para, se não acabar, pelo menos minimizar este flagelo que todos os anos destrói a nossa floresta e os bens de toda uma vida, pondo também em risco a vida das pessoas.
Como sempre acontece, uma das maiores saudades que ficam sempre que saímos do país, é o nosso café. Lá tivemos de tomar o nosso cafezinho de despedida, em Vilar Formoso. De todos os cafés em Espanha e França, não foram mais de três, os que nos satisfizeram e são bem caros, sobretudo em França, onde chegaram a 1,70€. Curiosamente foi a nossa maior "extravagância", eheheh
Atravessar o "deserto espanhol" é o que custa mais. Hoje é bem mais agradável, ainda assim, do que há muitos anos atrás. Comecei a atravessá-lo em 1969 e era desolador. A Espanha nessa altura era, como nós, dois países à procura de um novo rumo.
Depois de passarmos pela periferia de Pamplona, entrámos nos Pirinéus, numa zona verde muita agradável seguindo o rio Urrobi, nome que foi dado ao simpático camping que por sinal estava completo à porta mas ainda se arranjou um espaço para montar pela primeira vez a nossa nova "casa de férias". Uma boa e funcional prenda dos nossos primos lusos e franceses, no ano passado, quando fizemos 25 anos de casamento.
Pelo caminho assistimos a duas situações caricatas. A de um casal de holandeses a lavar o seu BMW mesmo à beira da bomba de abastecimento e ninguém lhes disse nada. Pois, o material que lá estava de limpeza, um balde e uma vassoura, são para limpar o para-brisas, não são para dar banho à viatura, só visto, eheheh
Outra foi um indivíduo que se lembrou que o melhor local par fixar o GPS era dentro do volante. O que encontramos nestas viagens...
2º Dia - Aurizberri-Espinal - Luz Saint Sauveur
O dia amanheceu fresco mas soalheiro, óptimo para continuar esta viagem de moto. As previsões eram de alguma chuva que por estas paragens é normal. Por isso a beleza do verde das paisagens.
Passagem soberba pelo Valle del Roncal e Arroyo de Belagua.
Entrámos em França, pelo Col de la Pierre St. Martin.
O GPS embrenhou-nos e bem pela Forêt d'Isseaux.
Pic-nic volante tomado e estávamos de novo na estrada. Uma boulangerie ainda aberta safou-nos. Às vezes não é fácil encontrar num dia de feriado refeições rápidas, nas localidades de interior.
Chegámos ao nosso "campo base" o camping Le Hounda junto a Luz Saint Sauveur, uma localidade muito interessante, activa e central, para o nosso plano de visita à região.
Escolhemos este camping, sobretudo pelas condições para acampar. Até se pôde fazer pic-nic, tal a qualidade da relva, nos generosos espaços individuais, a par de boas instalações de apoio.
Devido a estar ligeiramente afastado da vila, acaba por ser muito calmo, apenas se ouvem os pássaros e a água do rio. É bom para esticar as pernas até à vila.
A questão do colchão foi resolvida. logo após nos instalarmos. No centro da vila a Intersport está sempre aberta, o que é uma boa ajuda para os muitos turistas que por lá circulam, durante todas as estações do ano.
Fomos jantar umas saborosas pizzas em forno de lenha no restaurante Le Txoko, curiosamente na localidade logo ao lado e a bom preço.
Uma valente chuvada acompanhada de trovoada fez-nos companhia, enquanto decorria o repasto na esplanada. Esteve-se muito bem!
3º Dia - Tourmalet, Aspin, Palomières e Lac's
Iniciámos as diversas visitas aos carismáticos percursos dedicados ao ciclismo. Encontrámos naturalmente muitos ciclistas mas também muitas motos que como nós também foram deliciar-se com as belas paisagens e espectaculares curvas, com inclinações por vezes mais acentuadas e pendentes médios bem durinhos para as bicicletas. Novos e velhos, todos por lá andam!!
Só de ver a malta das bicicletas já se fica cansado, pelo que convém tomar o pequeno almoço reforçado. Nada como uma boa baguette, uma saborosa chocolatine, acompanhadas de leite chocolatado, É só calorias,eheheh!!
A ascensão ao Tourmalet, começa exactamente na vila onde ficámos. São 16 quilómetros sempre a subir da quota à volta dos 700 metros até aos 2115, com os dois últimos quilómetros a impor respeito.
Não admira a satisfação de quem chega lá acima, sobretudo no Tour!!
Seguiu-se o Col d'Aspin, observando o Pic du Midi de Bigorre com os seus 2872 metros de altitude, ainda na descida do Tourmalet.
Aproveitámos para fazer o habitual pic-nic, durante o percurso, num local de onde se pôde observar uma pitoresca aldeia, lá bem no fundo do vale.
Foram muitos os ciclistas mais "pros" ou não que subiam e desciam. Um deles já ia no terceiro Col e pediu-nos água. A idade indicava muita quilometragem nas pernas!
Passagem interessante pela vila de Arreau, a caminho do Lac d'Oredon e Cap de Long.
A chuva apareceu mas fraca, a dar uma visão diferente a estes belos locais, bem no centro do Massif de Néouvielle, acima dos 2000 metros.
Procuramos não passar pelos mesmos trajectos mas devido à hora, acabámos por ter de arrepiar caminho e voltar a passar pelo Tourmalet, depois da bela passagem pelo Col des Palomières.
4º Dia - Col des Tentes, Cirque de Gavarnie e Vallée d'Ossoue
Este dia foi destinado também a um percurso pedestre.
Breve vista sobre a Ponte Napoleão III, lá voltaríamos com mais tempo e boneco pitoresco, dos vários que fomos encontrando à beira da estrada, pelos diversos percursos percorridos, deram início a mais uma passeata pelo Parque Nacional dos Altos-Pirinéus.
Seguimos depois para o bonito Vallée d'Ossoue, por pitoresca estrada estreita, seguida de fora de estrada, para fazer um interessante percurso pedestre e saber sobre a transumância dos animais que povoam estes vales em busca da melhor pastagem.
Este percurso que está incluído na grande rota GR10 que percorre esta região, foi feito até à barragem d'Ossoue.
A água cristalina convidava a banhos e lá fui. Pois, fui mas a água a uns gelados 5 ou 6 graus, correu-me logo cá p'ra fora. O melhor foi mesmo saborear o pic-nic. Porra, estava mesmo fria!!
Depois de visitar a simpática vila de Gavarnie, ainda assistimos aos saltos na Ponte Napoleão, do alto dos seus 70 metros de altura. Gente corajosa!!
O dia começou com ameaça de chuva fraca, pelo que não alterámos o plano traçado.
Depois de passar pela cidade de Argelés-Gazost a visitar numa próxima oportunidade, seguimos para o Col des Spandelles. Paisagens verdejantes fabulosas que embora não as tenhamos apreciado no seu completo esplendor, deu para perceber que estávamos a passar por uma zona muito bonita e agradável, com casas de montanha embrenhadas neste belo cenário natural. A estrada secundária por onde passámos, foi um encanto!
O espectáculo natural continuou até ao Col du Soulor, onde parámos para satisfazer a nossa "extravagância", o café!!
Seguimos para o famoso Col d'Aubisque, por onde têm passado grandes etapas do Tour.
Nos pontos mais altos o muito nevoeiro e alguma chuva não deixou aproveitar ainda mais o passeio mas como já tínhamos passado por aqui com sol, acabou por ser diferente e interessante na mesma.
Continuámos a cruzar-nos com muitas bicicletas e motos, mesmo com o tempo como ele estava e temperatura mais baixa.
Era hora de almoçar. Optámos e bem por descer à estância termal de Eaux-Bonnes. Em pleno centro, um agradável jardim onde foi possível fazer o nosso pic-nic. Muito bom!
Subimos de novo ao Col d'Aubisque, para continuar a rota traçada, agora de regresso ao "campo base". O tempo continuou fechado.
O jantar no restaurante L'Antrepotes, na vila de acolhimento, com a boa carne que vem da montanha e o bom atendimento, revelou-se uma boa surpresa. Por lá fomos abordados por um simpático casal de franceses. Ele afinal tinha ascendência portuguesa. Estamos por todo o lado!
6º Dia - Hautacam/Tramassel, Couraduque, Lac d'Estain e Pont d'Espagne
O sol voltou e desta vez fomos à descoberta do Hautacam e Col de Tramassel um pouco mais acima.
É um percurso fabuloso, sobretudo pelo que se pode observar enquanto fazemos a ascensão até aos 1616 metros de altitude.
Saboreámos aqui um dos poucos cafés desta viagem, como costumamos dizer, tirado com as duas mãos. Lá conseguimos matar saudades, eheheh
Fizemos uma voltinha pedestre até lá mais acima, com inclinação generosa, para observar melhor a região.
Voltámos à estrada para ir até ao Col de Couraduque e continuar a apreciar as casas típicas, de férias e de montanha, com as fantásticas paisagens que a região constantemente nos oferece ao virar de cada curva. Fabuloso!!
Seguiu-se o agradável Lac d'Estaing, no sopé das montanhas, por sinal procurado pelas muitas famílias que encontrámos.
Um óptimo cenário para o nosso habitual almoço, em plena natureza.
Na impressionante cascata, um companheiro de Barcelona meteu conversa connosco. Está à espera duma Crosstourer e quis saber da minha opinião sobre esta excelente moto. Está a preparar a viagem para o Cabo Norte e será na nova montada. Por certo vai fazer uma óptima viagem, como nós também fizemos, na estreia da nossa além fronteiras.
Como na moto não podemos transportar mesa e cadeiras, a alternativa para algumas refeições é dentro da tenda. No camping, como já referi, pudemos fazer as nossas refeições no excelente relvado, debaixo duma das muitas frondosas árvores existentes. Maravilha, refeições no meio da natureza!
7º Dia - Visita a Luz Saint Sauveur
Reservámos este dia para a visita à localidade que escolhemos para conhecer a região.
O tempo ameaçava de chuva para andar de moto mas estava bom para fazer os percursos pedestres propostos, a partir do interessante posto de turismo. De tarde, de manhã estivemos "hibernados".
Começámos pelo habitual café num espaço reservado aos motards mas os preços na realidade não convidavam. Por cá existe e bem a preocupação, de se fazer preços mais acessíveis para a malta das motos!
O centro da vila é muito agradável e todos os dias muita gente deambula pelas várias ruas típicas por onde podemos encontrar, para além das muitas lojas, restaurantes e cafés, a história e a tipicidade desta região montanhosa.
Subimos ao Château Sainte-Marie ou ao que resta dele, de onde se tem uma vista panorâmica espectacular sobre a vila.
Continuámos pela Promenade du Château Sainte-Marie.
Antes de iniciar o novo percurso, fomos visitar a Église des Templiers, monumento do século XI.
Como sempre muitos ciclistas a caminho do Tourmalet.
O simpático e verdejante percurso seguinte, foi a Promenade Napoléon III et Eugénie.
Passagem pela Chapelle de Solferino. As vistas continuaram fabulosas.
Agora, com mais tempo, fomos apreciar um dos ex-libris da região, a Pont Napoléon III, construída em 1860, com os seus 70 metros de altura
.
Continuámos por fim pela zona termal e interessante percurso na travessia do rio.
8º Dia - Troumouse e Luz-Ardiden
Iniciámos o último dia de actividades antes do regresso, começando pelo Cirque de Troumouse. A par do Cirque de Gavarnie, vários são os picos que ultrapassam os 3000 metros de altitude.
As nuvens não deixaram contemplar este bonito espaço mas ficámos encantados com o que fomos encontrando.
Teve uma portagem de 2€ para as motos que achámos não se justificar, dada a comparação com outros espaços de acesso gratuito que visitámos. Um companheiro de lá lembrou-se de contornar a portagem mas foi logo avisado através dum forte apito da guarda e lá teve de pagar, enfim...
Parámos para o café que nos soube a pouco mas a muito na carteira, 1,70€ cada!!!
A partir de Luz Saint Sauveur fizemos a ascensão à estância de ski Luz-Adriden que em 2011 recebeu a chegada duma etapa do Tour, aos 1715 metros de altitude. O Pic d'Árdiden que se pode observar tem 2988 metros.
Fomos surpreendidos por uma prova do Campeonato do Mundo de Drift Trike que consiste em descer a montanha em triciclos preparados para o efeito. Enquanto esperámos pela abertura da estrada, fomos apreciar a prova e as bonitas vistas panorâmicas. Que espectacular estrada ao longo do vale!!
De regresso fomos manger une glace junto à Ponte Napoleão e ver mais uns corajosos e corajosas a saltar da ponte, grande atracção natural sobretudo para a malta nova que ali aparece em força.
E o improvável aconteceu. Vimos um motard a dirigir-se para nós e não é que era português? E mais, era o amigo João Santos de Coimbra. Foi logo uma festa que se prolongou com a sua instalação no camping mesmo ao nosso lado e excelente jantar a comemorar este memorável encontro.
Pena estarmos de partida mas foi o encerrar destes dias da melhor forma, por terras gaulesas!
9º Dia - Luz Saint Sauveur - Águeda
Era bom mas acabou-se. Regresso praticamente sem história ao longo dos 999,6 quilómetros percorridos, a não ser o muito calor a partir do momento em que deixámos os Pirinéus. Chegou mesmo a uns abafados 39º na Guarda!!
Como sempre o cafezinho no regresso em Vilar Formoso, como "prémio"!!
Foi sem dúvida uma das melhores viagens que fizemos.
Para mim enquanto motociclista, é um privilégio ter como companhia a grande companheira e pendura de tantos quilómetros e viajar montado numa grande moto. A Crosstourer passou com grande distinção esta primeira viagem que fez além fronteiras. Não tem naturalmente a comodidade de uma grande-turismo e mordomias de outros modelos mas tem uma alma enorme no motor, muita segurança, a par de uma ciclística impressionante.
Fazer todos estes cerca de 3000 quilómetros por fabulosos trajectos, repletos de saborosas curvas de alta montanha, tornaram esta viagem memorável que agora partilhamos com muito gosto.
Quem puder faça-se à estrada, aventure-se e desfrute de tudo o que só uma longa viagem de moto pode proporcionar.
Se escolher como nós o moto-campismo, então ainda será mais divertido e dará mais liberdade, com custos mais baixos.
Venha a próxima. Até lá...
Álbum de fotos
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