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terça-feira, 16 de junho de 2015

Soberbo passeio pela História de Portugal

Lés-a-Lés foi união fantástica entre cultura e gastronomia, 
recheado de fabulosas paisagens e riquíssimo património


     De Miguel Torga ao Centum Cellas, de Fernão de Magalhães ao abandonado complexo mineiro de S. Domingos, de Provesende, a aldeia portuguesa com mais casas brasonadas, ao Núcleo Museológico de Alcaria de Javazes, com passagem pelo Museu do Queijo, em Peraboa, ou pelas monumentais vilas e aldeias de Tabuaço, Sernancelhe, Belmonte, Flor da Rosa ou Crato, esta foi uma das mais ricas edições do Portugal de Lés-a-Lés. Cocktail de luxo servido com acompanhamento de fabulosas paisagens, da imponência granítica das serranias transmontanas aos engenhosos socalcos xistosos do Douro Vinhateiro, das intermináveis planícies alentejanas às refrescantes praias algarvias. Tudo condimentado com estradas entusiasmantes em evento que, pela 17.ª vez, cumpriu o propósito de desvendar um País diferente e ímpar.

   

     Em gigantesco palco, de Sabrosa a Albufeira com passagem por Castelo Branco, foi apresentada imponente peça com 1400 atores, entre participantes, convidados e organização, num evento com produção da Federação de Motociclismo de Portugal e realizado com apoio de muitos moto clubes. Sem drama mas com muitas risadas, sem frio ou chuva mas com toneladas de boa disposição, sem pipocas mas com muitas palmas, a maior maratona mototurística da Europa voltou a ligar dois extremos do mapa continental, em atos tão variados quanto os cenários envolventes mas sempre com o prazer mototurístico como fio condutor de toda a ação. Quase 1000 quilómetros por estradas nacionais, municipais e uns quantos caminhos de terra batida, porque as maiores belezas estão normalmente longe de vias de questionável modernidade como as autoestradas, Itinerários Principais ou Complementares.

     Trovoada de sensações fortes

     Da Terra de Magalhães que já é Património Mundial da Unesco, bem perto da casa onde nasceu o navegador de nome Fernão, partiu a aventura para pequeno prólogo pelas concelhias estradas sabrosenses, saindo do parque batizado de BB King em homenagem ao “enorme” guitarrista Riley Ben King, recentemente falecido, e que ali atuou em maio de 2009. Entrada de enorme carga histórica sublinhada pela visita ao novíssimo Espaço Fernão de Magalhães, com interatividade evocativa da viagem de circum-navegação, e ao Núcleo Museológico de Garganta e, sobretudo, ao Espaço Miguel Torga, perfeitamente enquadrado na marcante simplicidade da região. E isto antes da passagem pelas curvilíneas estradas da mais antiga região demarcada de vinhos do Mundo, cujos 26 mil hectares valeram, em 2001, a classificação de Património da Humanidade por parte da Unesco. Com o Douro sempre por companhia e debaixo de ameaçador céu plúmbeo, descida ao Pinhão e subida a Provesende, onde, rezam os cronistas dos tempos áureos da fidalguia, os cortejos para as missas dominicais causava faustoso colorido digno da corte em Lisboa. Com alguns pingos de chuva que não chegaram para arrefecer o asfalto, tão pouco enorme entusiasmo dos participantes, a voltinha de 72 quilómetros permitiu apreciar uma região enriquecida pela vitivinicultura e salva por Joaquim Pinheiro de Azevedo Leite Pereira que, em 1890, introduziu variedade de videiras americanas que evitou a ruína ameaçada pela filoxera em meados do século XIX.


     Festival mototurístico de Sabrosa a Castelo Branco

     Introdução com continuidade no início da primeira etapa, curta de 351 quilómetros mas repleta de motivos de interesse, em dia fantástico alternando entre deliciosas estradas e a beleza história dos centros de várias aldeias e vilas que já viveram tempos bem mais prósperos. Como Tabuaço onde a colorida caravana pôde apreciar a monumentalidade românica em pontes e templos, descendo depois rumo a Armamar, a Capital da Maçã de Montanha, com destino a Moimenta da Beira, não sem antes encontrar os Moto Galos de Barcelos que controlavam a ponte sobre o rio Tedo. Vestidos a rigor com o fausto dos tempos de reis e rainhas, inclusive com direito a escolta real e proteção divina por intermédio dos representantes do clero que a todos benziam, marcavam o segundo furo dos 18 que atestavam o cumprimento integral do percurso, em tira de plástico que, colada em bem elaborado diploma, é prémio maior para quem alinha no Lés-a-Lés.

     Outro dos prémios foi, sem sombra de dúvida, o oferecido pelos patrocinadores do evento sob a forma de Oásis onde um cafezinho, água fresca ou sumos, pastéis ou gelados ajudavam a recuperar o fôlego. Nas margens do rio Távora, represado pela barragem de Vilar, estava o espaço Antero, concessionário BMW e Yamaha nos Carvalhos, o primeiro dos vários Oásis que marcaram, de forma muito positiva, o 17.º Lés-a-Lés. Marcado, ainda e sempre, pela História, patente em Fonte Arcada, sede de concelho durante 700 anos antes de perder essa importância para Sernancelhe, terra revisitada depois da passagem da caravana na 5.ª edição da grande aventura. Seguiu-se Trancoso antes de um saltinho aos... Açores, pequena aldeia no concelho de Celorico da Beira que deu toque insular ao evento continental. Estreia açoriana no Lés-a-Lés, tal como a presença da NEXX, a fábrica sedeada em Anadia e que aqui apresentou a nova gama de capacetes, incluindo o novo e muito procurado X.D1. Capacete muito utilizado pelos condutores de motos trail neste passeio e que mais ainda deverá ser visto na edição de estreia da versão Off-Road do Portugal de Lés-a-Lés, de 23 a 26 setembro deste ano.

     Dos romanos aos judeus passando pelo... bom queijo

     Até lá, tempo para recordar a visita, pela primeira vez no Lés-a-Lés, ao enigmático Centum Cellas, monumento que nunca gerou consenso quando à data de origem ou verdadeira função que nem os romanos do Moto Clube do Porto, vestidos a rigor para mais um controlo, conseguiram esclarecer. Segundo as teses que reúnem maior número de adeptos, esta poderá ter sido uma Villa construída por um abastado cidadão romano no século I, tendo sofrido um enorme incêndio e, posteriormente, diversas alterações e adaptações, sendo mesmo uma prisão com centena de celas (de onde o nome Centum Cellas), uma igreja em honra de S. Cornélio ou uma torre de atalaia. Deixou de ser sede de concelho em 1198 em favor de Belmonte, cujo castelo forneceu palco de eleição para improvisado restaurante para acolher todos os motociclistas, que, logo a seguir, tiveram tempo para fazer a digestão em passeio e visita ao Museu Judaico, Museu à Descoberta do Novo Mundo e Museu do Azeite. Com a História sempre presente, deixou-se para trás a terra onde nasceu Pedro Álvares Cabral e onde a comunidade judaica se instalou após a expulsão de Espanha pelos Reis Católicos, e viajou-se até Caria, com as suas duas pontes medievais, não sem antes poder dar uma escapada, opcional, às ruínas romanas da Fórnea.

     Com o dia longe de estar terminado, o lanche foi servido no Museu do Queijo e no restaurante Casa dos Mestres, habitação em Peraboa onde dormiam os mestres pedreiros que construíram a Catedral da Guarda, entre finais do séc. XIV e meados do séc. XVI e onde agora se come muito bem graças ao entusiasmo e aptidões culinárias de motociclistas do MC Covilhã – Lobos da Neve. A digerir o bom queijo da serra e as excelentes cerejas oferecidas a todos os participantes, passou a caravana em Penamacor com sua fortificação construída pelos Templários que a receberam de D. Sancho I, mas também por Bemposta, terra de grande importância no tempo dos romanos e, não menos significativo, na belíssima Idanha-a-Velha. Onde os elementos da Escuderia de Castelo Branco, bons conhecedores do Todo-o-Terreno, assinalaram mais um controlo mesmo antes da passagem a vau do rio (seco) Pônsul, lembrando como eram difíceis as viagens nos tempos de antanho. Travessia bastante facilitada para as motos dos nossos dias mas que valorizou a paragem no Oásis Lusitânia, nas margens da albufeira da Barragem Marechal Carmona, edificada em 1946, pela Junta Autónoma das Obras da Hidráulica Agrícola. Idanha-a-Nova e o castelo mandado erigir por Gualdim Pais em 1187 foi a paragem seguinte rumo a Castelo Branco com as longas retas que marcam a transição das beiras para o Alentejo a ajudarem a relaxar antes da passagem pelos Jardins do Paço Episcopal e pela famosa escadaria sobre a rua, com palanque instalado na sala de visitas albicastrense, mesmo junto à Câmara Municipal, em final de dia intenso mas muito proveitoso, em jornada de excelência mototurística.

     Manjar para os sentidos continua rumo ao sul

     Muito agradados com a aventura da primeira etapa, repleta de encantos durienses e beirões, verdadeiro manjar para os sentidos graças a paisagens de enorme imponência e estradas onde o prazer de condução foi sublinhado pelo aroma único da mais antiga região vitivinícola demarcada do Mundo, os madrugadores aventureiros cedo se lançaram à conquista da segunda tirada. Ainda era noite em Castelo Branco quando as mais pequenas cinquentinhas e 125 cc, Vespa e algumas das motos mais antigas se fizeram à estrada para jornada de 480 quilómetros até Albufeira. Mais comprida que a da véspera, é certo, mas mais relaxada nas longas retas alentejanas, onde a monotonia era quebrada pela visita a vários centros urbanos de grande interesse histórico.

     Um dia que, porém, começou com boa dose de curvas, em jeito de pequeno-almoço de animação extra, na descida a Vila Velha do Ródão e subida a Nisa, com passagem pelas impressionantes Portas do Ródão, em entrada no Alentejo marcada pelas primeiras casas de branco caiadas, e paragem em Flor da Rosa, localidade que cresceu em redor do imponente mosteiro com o mesmo nome, transformado em belíssima Pousada. Local de eleição para um café no Oásis montado pela BP e reforço da hidratação que o calor começava a fazer-se sentir. Crato e a espetacular Varanda do Grão Prior, resquício único de edifício marcante na história dos Templários em Portugal, a Coudelaria de Alter, criada em 1748 por D. João V e a que há mais tempo funciona de forma ininterrupta em todo o Mundo, e o centro de Alter do Chão seguiram-se em road-book recheado de notas, informações e curiosidades. E que alertava para a presença dos elementos dos Motards do Ocidente, em ação de controlo da caravana, e do Oásis Lusitânia, juntos em refrescante local, na praia fluvial nas margens da Ribeira Grande.

     Caminhos do outro mundo e estradas de cortar a respiração

     Sempre com enorme serenidade, desfrutando de paisagens e estradas bem diferentes do dia anterior, o pelotão entrou em Sousel através da formosa Porta de Évora, acompanhando as muralhas até ao Oásis Bomcar onde era possível ver a Serra da Ossa, preparando com o olhar os quilómetros seguintes. Boas curvas para desenjoar das longas retas como as que haveriam de levar ao abandonado Castelo de Valongo, obra dos muçulmanos nas margens da Ribeira da Vila, ou a Reguengos de Monsaraz, cidade jovem e onde o calor intenso só era disfarçado pelo céu encoberto que a espaço concedia algumas tréguas à longuíssima caravana.

     Albufeira ainda estava longe mas, para habituar os olhos a longas extensões de água, nada como a visita à Amieira Marina, nas margens do rio Degebe, represado pela barragem do Alqueva, onde o petisqueiro almoço reabasteceu o corpo para uma tarde que prometia ser longa. E que começou com paragem na barragem que criou o maior lago artificial da Europa, com mais quilómetros de margens do que Portugal tem de costa. Obra imponente cuja observação podia ser acompanhada por uma maçã de Alcobaça, água ou uma bebida energética da Monster oferecidas no Oásis Yamaha. Voltando a estrada rumo ao ponto mais promissor do dia, as Minas de S. Domingos, tempo para descontrair nas passagens por Moura, Pias ou pela pitoresca Serpa, antes da chegada ao complexo mineiro que chegou a albergar 13 000 habitantes e agora conta com escassos 500. Paisagens do outro mundo e mina a céu aberto estruturada em volta da via-férrea, inaugurada em 1862 e com 17 km até ao Pomarão, por onde saía o minério exportado para Inglaterra. E onde a receção esteve a cargo da SW Motech em cujo Oásis era possível retirar o pó acumulado na garganta, com água ou sumos, pois claro, que o álcool é proibido durante as etapas do Lés-a-Lés!

     Mértola e o seu centro histórico de inspiração árabe foram ponto de visita rápida, antes da paragem no Núcleo Museológico de Alcaria de Javazes, revelador dos hábitos e instrumentos usados ao longo dos séculos pelas gentes da região, e onde a Honda fazia as honras da casa, com Oásis que antecedia a porção mais aventureira da edição deste ano. Um troço em terra, bastante degradado pelos rigores do inverno, onde todas as motos poderiam passar mas que oferecia alternativa mais longa mas mais simples, por estrada asfaltada até Clarines, ponto de entrada no Algarve. E que marcou o regresso das estradas cheias de curvas, da N124 de Alcoutim a Barranco do Velho, à N396 até Loulé. Momentos de puro prazer de condução antecedendo o rebuliço do Algarve mais turístico rumo ao palanque final, com o último dos 18 controlos instalado pelos divertidos elementos e excelentes anfitriões do Moto Clube de Albufeira mesmo sobre a Praia dos Pescadores. Verdadeira sala de visitas colocada ao dispor pelo entusiasmo do presidente da edilidade, Carlos Eduardo da Silva e Sousa, que aqui retribuiu a simpatia do presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, José Marques, servindo de cicerone nos derradeiros momentos de uma aventura de 1000 quilómetros em rota de inesquecíveis descobertas paisagísticas, patrimoniais, históricas e gastronómicas. O local onde, já se sabe, será dada a partida para o prólogo do 18.º Portugal de Lés-a-Lés, no dia 10 de junho de 2016. A aventura continua!

O Gabinete de Imprensa
17.º Portugal de Lés-a-Lés































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